Maria Angélica de Moraes
Ter sucesso com uma empresa familiar muitas vezes requer diplomacia e conhecimento para administrar negócios e sentimentos no sentido de tornar o patrimônio mais sólido. Para o economista Fábio Bartolozzi Astrauskas, diretor da Siegen, empresa especializada em gestão empresarial com ênfase em sucessão familiar sediada em São Paulo, a primeira lição a ser aprendida por todos os envolvidos é que alguns terão talento, interesse e habilidade maiores para lidar com o tipo de empreendimento da família. "Fazer da empresa um local sério, de ganha pão de todos e não um cabide de empregos é um dos passos mais importantes para que ela tenha a produtividade e o crescimento desejados".
Segundo o economista, em geral as empresas familiares nascem pequenas a partir do esforço e participação de boa parte dos membros da família. "É natural que os limites casa-empresa se confundam. Porém, quando a empresa cresce e suas atividades se tornam mais complexas é importante separar bem a família da empresa", ressaltou Astrauskas. "A compreensão de valores não financeiros na tomada de decisão é um exemplo de aspectos positivos que a administração familiar pode contemplar. Por outro lado, a falta de formalidade e objetividade podem tornar a empresa incontrolável, principalmente em situações de crise".
Estas situações quase sempre resultam em perdas ou deslizes financeiros que são um reflexo de falhas de caráter operacional e gerencial. "Se a empresa não cuidou da operação e dos aspectos gerenciais ela terá reflexos na área financeira. Quase todos os problemas de uma empresa se refletem em sinais financeiros", observou o economista. Por isso contratar uma consultoria independente é uma das providências a ser tomada antes que a crise apareça, mas a partir do momento em que a empresa começa a se expandir. De acordo com Fábio Astrauskas, pequenas empresas que se tornam médias devem começar a buscar reforço em seus quadros administrativos.
Harmonia -
Sonho realizado - Para o empresário Celso Correa da Costa, proprietário da Dimel Iluminações em Cuiabá, trabalhar ao lado da esposa e dos filhos é a realização de um sonho. Ele abriu a empresa há 16 anos com a sobrinha, que hoje é secretária. Um ano depois a mulher assumiu o setor financeiro. Atualmente ele conta ainda com a participação dos três filhos em áreas diferentes, do estoque à entrega de produtos e vendas. "Eles foram escolhendo os locais onde iam trabalhar conforme as próprias aptidões".
Segundo Celso não há conflitos, desentendimentos ou qualquer desvantagem em agregar toda a família no negócio. "Assim todos têm segurança, estão por perto e o relacionamento é de inteira confiança. Dentro da empresa mantemos uma relação profissional e não levamos os problemas para fora dela, não deixamos que eles interfiram na conivência familiar".
Histórico - Fábio Astrauskas explicou que, a rigor, quase toda a empresa, em qualquer lugar do mundo, nasceu e cresceu familiar sob o ponto de vista do controle acionário. Com o passar dos anos e com o crescimento da empresa aos poucos vai se estabelecendo uma divisão clara entre controle acionário (dono) e gestão executiva (administração). "Na Europa e nos Estados Unidos, mesmo com diversas empresas negociadas em bolsa, o controle de boa parte delas está nas mãos de poucos grupos familiares. No entanto, a gestão cabe quase sempre a um grupo de executivos contratados e sem vínculo familiar. As empresas brasileiras ainda são muito jovens comparadas às européias e americanas. Daí o fato de ainda terem dificuldade para lidar com a sucessão familiar. Mesmo assim, temos vários exemplos das que que são bem sucedidas", finalizou.